segunda-feira, 27 de novembro de 2023

Costurando inovação: um bate-papo sobre moda e economia criativa

  Após escrever o meu texto sobre o papel das redes e do movimento punk, me veio a reflexão de como a técnica se transpõe na criatividade, ou, melhor, a criatividade se transpõe no saber-fazer humano e resulta em projetos que emitem vozes poderosas.  

Coincidentemente, um tempo depois, conheci a marca da Jéssica Santos, nossa colega da disciplina de Comunicação e Tecnologia, estudante de Produção Cultural na FACOM. A marca da Jéssica me chamou atenção logo de cara, seja, é claro, pela estética sensacional, seja por eu ainda estar pensando sobre os diversos aspectos e processos que acabam desaguando na economia criativa. Ao entrevistá-la, ela me contou como surgiu a Fent Studios, ou Fenty da Bahia. 

Perfil da Fent Studios no Instagram. Foto: Reprodução

“Na verdade, começou como um brechó, durante a pandemia”, disse. “O objetivo era ser um mecanismo criativo, para poder me expressar artisticamente, mas também tinha a questão econômica que era tão importante quanto.” 

Fent Studios, como brechó. Foto: Reprodução

Fent Studios, como brechó. Foto: Reprodução

Nos inúmeros campos que abarcam a economia criativa, a categoria moda e artesanato é a que reúne a maior quantidade de trabalhadores no Brasil. Isso porque, assim como Jéssica, trabalhar com a criatividade pode ser tanto uma saída para garantir maior autonomia financeira, quanto uma oportunidade de lucrar fazendo uma atividade de que se gosta, manifestando seu modo de fazer, sua imaginação, e os seus ideais. 


“Sempre gostei de moda e achei que seria uma boa fazer a curadoria de peças. Fiquei mais ou menos um ano nisso e depois comecei a realizar peças upcycling, que é uma técnica de reutilização de peças já usadas e de segunda mão, recriando com o que foi descartado.” 


Do início: as peças upcycling. Foto: Reprodução


Atualmente, as diversas cobranças devido a expansão dos ambientes digitais e em consequência, o aumento da competitividade, os desafios para manter-se no ramo são bastante acentuados, fazendo com que haja uma necessidade da promoção por meio das mídias sociais e transformando a forma como o trabalho criativo é distribuído, consumido e monetizado.

Jéssica me diz que a ideia inicial para o nome Fenty da Bahia era de ser sobre um coletivo criativo invés de uma marca propriamente dita, pois se sentia limitada e pensava na necessidade de se ter um nome que trouxesse uma presença mais forte para as redes sociais – já que o Fenty remetia a outra diva, Rihanna, criando a associação na mente das pessoas. “Até porque, na época, eu não conhecia muitas pessoas que pudessem compartilhar o brechó, sabe? Então comecei do zero, usando algumas estratégias que funcionaram para as métricas do Instagram.” Com o tempo, contudo, ela foi gradualmente mudando o nome para Fent Studios.

Foto: Reprodução

Mas ainda, ao perguntar para Jéssica qual a sua maior dificuldade com a marca, ela responde que “o principal desafio é dividir as tarefas de buscar estratégias para atingir uma presença digital e outras demandas que existem fora da internet.” É tanto que, apesar do irmão cuidar do administrativo da Fent Studios, Jéssica acumula funções na parte criativa da marca: tira as fotos, edita, e acaba desenvolvendo outras habilidades além da que ela precisaria ter – a de designer de moda. 


“Aprendi tudo sozinha. Precisei comprar uma máquina de costura para aprimorar o trabalho e acabeiaprendendo de forma autodidata. Comecei a me dedicar em peças autorais e foi mais fácil para poder
me dedicar na área de direção criativa e produção de moda.” 

Foto: Reprodução

Nesse sentido, é incrível visualizar como o gosto pela arte e o saber evoluem, levando a tantos caminhos na produção – da curadoria, à transformação de peças já existentes, à criação de roupas ainda mais únicas. E quando falamos sobre como a moda e artesanato se comportam no a economia criativa, podemos dizer que a inovação, aliada à visão empreendedora e aos valores do próprio empreendedor, emergem como alicerces fundamentais na construção da identidade de uma marca.


“Eu acho que uma das coisas que eu mais acredito em relação a moda é que não existe a necessidade de consumir todas as tendências e marcas famosas, para se reafirmar como uma pessoa com “estilo”. De fato, acho que nem acredito nessa ideia de ser “estilosa”, eu acho que a moda tem a possibilidade de comunicar muito mais. Mas também acho muito bacana sobre como a moda pode quebrar paradigmas e transformar.” 


Foto: Reprodução/Fent Studios

Foto: Reprodução/Fent Studios

“O ponto da diversidade e igualdade racial não é algo que é um tema central das minhas criações, mas acho que perpassa esse tema quando as produções são majoritariamente com pessoas pretas. Acho que isso fala muito sobre a quebra de paradigmas e também de uma construção de autoestima. Eu, que acompanho há muito [tempo] o mundo da moda, percebo como esse universo ainda é restritivo."


Por: Ana Leticia Ribeiro

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